Com as recentes mudanças introduzidas pelo NRC (National Research Council), agora rebatizado como NASEM (National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine), surge uma nova perspectiva para a formulação de dietas de vacas leiteiras. Essas atualizações focam no amido e na fibra, abordando aspectos como digestibilidade, qualidade e impacto na produção leiteira. Aqui, detalhamos as principais alterações e seus reflexos para a prática nutricional.
Parte 1: O Papel do Amido no Novo NASEM 2021
Inclusão do Amido nas Equações de Energia
O novo modelo corrige uma lacuna histórica: a ausência de amido como componente específico no NRC 2001. Anteriormente, utilizava-se os Carboidratos Não Fibrosos (CNF) como proxy para a energia fornecida por amido e outros carboidratos. A introdução do amido como variável específica:
- Substitui o CNF: Elimina a necessidade de estimativas indiretas.
- Melhora a precisão energética: Incorporando a digestibilidade do amido diretamente nas equações de produção.
Digestibilidade do Amido: Um Fator Crítico
A digestibilidade do amido é essencial para maximizar a eficiência alimentar e a produção de leite. No novo modelo:
- Relação com produção de leite: Estudos mostram que maior digestibilidade do trato total aumenta a energia disponível, refletindo diretamente no rendimento leiteiro.
- Valores de digestibilidade:
- Rúmen: Cerca de 55% do amido é digerido no rúmen.
- Trato total: Digestibilidade média de 92%, com variações dependendo do tipo de amido, processamento e fermentação.
Indicadores de Qualidade e Suas Limitações
A qualidade do amido é avaliada por diversos métodos:
- Concentração de amido: Medida direta em laboratórios comerciais.
- Digestibilidade in vitro e in situ: Simulam condições ruminais, mas enfrentam desafios de precisão.
- Tamanho de partícula e processamento: Influenciam diretamente a digestibilidade. Partículas menores, por exemplo, aumentam a área de superfície para a ação de enzimas.
Introdução da Matéria Orgânica Residual (ROM)
Essa nova fração representa carboidratos não medidos diretamente, como ácidos orgânicos e açúcares residuais. Com coeficiente de digestibilidade ajustado para 96%, a inclusão da ROM:
- Melhora a estimativa de energia dos ingredientes.
- Substitui abordagens imprecisas, como ajustes indiretos no CNF.
Parte 2: Avanços na Digestibilidade da Fibra
A fibra é outro componente essencial para a formulação de dietas. Suas alterações no modelo NASEM 2021 visam maior precisão nas estimativas de digestibilidade e consumo.
Digestibilidade do FDN: O Novo Padrão
O modelo agora utiliza digestibilidade in vitro de FDN medida em 48 horas, em vez das 30 horas convencionais. Isso se deve a:
- Correlação superior: Resultados de 48 horas refletem melhor a digestibilidade observada em vacas leiteiras.
- Opção de personalização: Usuários podem ajustar valores com base em dados locais, mas precisam ser cautelosos para evitar inconsistências.
Relação Amido-Fibra
O modelo introduz ajustes para equilibrar a interação entre amido e fibra:
- Impacto do amido na fibra: Dietas com alto teor de amido tendem a reduzir a digestibilidade da fibra devido à competição por espaço digestivo e alteração na microbiota ruminal.
- Correções baseadas no consumo: Vacas de alta ingestão de matéria seca apresentam digestibilidade de fibra reduzida devido à maior taxa de passagem.
Previsão de Consumo com Base na Qualidade da Fibra
Novas equações foram desenvolvidas para prever o consumo potencial de matéria seca:
- Indicadores-chave: FDN da forragem, digestibilidade do FDN e relação entre fibra indigestível e digestível.
- Aplicação prática: Auxilia a identificar limitações no consumo, como enchimento ruminal causado por fibras de baixa digestibilidade.
Desafios Persistentes e Oportunidades Futuras
As mudanças no NASEM 2021 trazem melhorias significativas, mas também destacam áreas que ainda demandam atenção.
Métodos de Digestibilidade
Os métodos laboratoriais atuais, especialmente os in vitro e in situ, ainda enfrentam limitações:
- Problemas de replicabilidade: Pequenas variações no processamento de amostras afetam significativamente os resultados.
- Falta de validação em campo: Métodos precisam ser mais integrados às condições reais observadas em vacas leiteiras.
Necessidade de Dados Locais
Estudos baseados em condições locais (clima, genética do rebanho e características dos insumos) são essenciais para adaptar o modelo às diferentes realidades produtivas.
Ferramentas Futuras
A introdução de medidas como “amido fecal” pode melhorar a precisão das predições:
- Uso no campo: Permite ajustar a digestibilidade de ingredientes com base em medições práticas.
- Potencial para inovação: Integração com novos softwares de formulação pode facilitar sua adoção.
Implicações Práticas
Para nutricionistas e produtores, as mudanças representam uma oportunidade de melhorar a eficiência alimentar e a produção de leite, desde que:
- Adotem uma abordagem personalizada: Ajustando as fórmulas às características específicas do rebanho.
- Invistam em análise de qualidade: Métodos mais precisos para amido e fibra ajudarão a maximizar os benefícios do novo modelo.
Conclusão
O novo NASEM 2021 marca um avanço significativo na nutrição de vacas leiteiras, proporcionando ferramentas mais robustas para formulação de dietas. Embora desafios persistam, as atualizações refletem o compromisso em integrar ciência de ponta ao manejo nutricional. Com sua aplicação correta, produtores podem esperar melhores rendimentos, maior eficiência alimentar e um futuro mais sustentável para a produção leiteira.
Seja você um produtor ou nutricionista, adapte-se a essas mudanças para potencializar os resultados do seu rebanho. Consultar especialistas e explorar os dados locais será essencial para tirar o máximo proveito das inovações do NASEM 2021!